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Pequenas e médias empresas aceleram na adoção de práticas sustentáveis

Por Iolanda Nascimento

As empresas brasileiras de pequeno porte estão acelerando cada vez mais a adoção de práticas sustentáveis, segundo avaliação de especialistas.

Algumas são impulsionadas por demandas específicas de consumidores mais conscientes e exigentes, e em curva ascendente à medida que o tema sustentabilidade está mais presente no dia a dia das pessoas.

Outras seguem as diretrizes das grandes companhias, que exigem dos fornecedores e da cadeia produtiva a adoção de medidas para que sigam as regras de suas próprias cartilhas de sustentabilidade.  Há também a urgência de se adaptar aos novos marcos regulatórios e legais que vêm sendo criados nos últimos anos com a finalidade de reduzir riscos ambientais e assegurar um mínimo de sobrevivência às espécies e ao planeta.  No entanto, muitas já percebem vantagens como a redução de despesas e ampliação dos negócios.

De acordo com uma sondagem do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), realizada com 3.912 empresas e publicada no ano passado, o apelo para redução de custos tem maior peso.  Muitas companhias menores estão percebendo que podem diminuir despesas fixas implantando estratégias sustentáveis, como redução de consumo de energia, água e papel, que estão entre as principais ações adotadas, segundo a pesquisa.

As companhias de menor porte trabalham com margens apertadas, o quê significa que elas são estimuladas ou por marcos regulatórios ou por exigências de consumidores e grandes clientes, no caso geralmente as empresas maiores, ou por uma justificativa econômico-financeira, que pode se traduzir em eco-eficiência, explica Paulo Branco, coordenador do Programa Inovação na Cadeia de Valor do Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP).

Na opinião de Clarissa Lins, diretora-executiva em Sustentabilidade Corporativa da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), quando busca qualidade de produtos e serviços, melhora na gestão da empresa e de funcionários, inovação de produtos e processos e eficiência de custos, muitas vezes uma boa parte das empresas menores nem considera essas iniciativas como de sustentabilidade.

"Percebemos muitas práticas, mas sem essa denominação ou a questão da conscientização em perspectiva."  O estudo do Sebrae constata que 65% dos empresários pesquisados consideram como "médio" seus conhecimentos sobre o tema sustentabilidade e meio ambiente, enquanto apenas 12% avaliam como "muito".  Do restante, 21% afirma ter pouco conhecimento e 2%, nenhum.

No entanto, em 70,2% dos estabelecimentos há coleta seletiva de lixo; 72,4% fazem controle do consumo de papel; 80,6% controlam o consumo de água; e 81,7%, o consumo de energia, além do que 65,6% dão destinação adequada a resíduos tóxicos, como solventes.

Para Carlos Alberto dos Santos, diretor técnico do Sebrae Nacional, a sondagem evidenciou avanços, mas também desafios.

Uma parcela considerável das empresas enxerga a possibilidade de gerar mais negócios e valor às suas marcas, além de manter a própria sustentabilidade:46% acredita que ações sustentáveis podem gerar "oportunidades de ganhos".  O desafio, observa, é ampliar essa fatia, já que, do total pesquisado, 16% avalia que resultam em mais custos e despesas e 38% considera que não geram ganhos nem despesas.  "Se de um lado observamos que a consolidação da sustentabilidade como valor de mercado vem ocorrendo em ritmo cada vez mais acelerado, de outro, ainda temos uma parcela significativa de empresários que não a percebem como oportunidade de ganhos em seus negócios.  Portanto, a sustentabilidade como um tema transversal a toda atividade humana não é percebida segundo aquela máxima ambientalista dos anos 90 de pensar globalmente (as tendências) e agir localmente, neste caso, na empresa."

Faltam políticas de incentivo

Os especialistas também apontam entre as principais barreiras para o incremento ainda mais acelerado de práticas sustentáveis pela companhias de menor porte a escassez de recursos a taxas atrativas para os projetos que exigem investimento e a falta de uma política fiscal e tributária que incentive essas iniciativas.  "Material reciclado é bitributado, o que é um sistema perverso, bem como a política de subsídios, geralmente são mais concedidos a empresas poluidoras.  Isso é jogar contra a sustentabilidade", diz Paulo Branco, coordenador do Programa Inovação na Cadeia de Valor do Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, acrescentando que é preciso promover essas reformas e destinar linhas de crédito realmente impactantes.

O trabalho para conscientizar funcionários também está na lista das dificuldades.

Segundo o Sebrae, nesse quesito, a pequena empresa tem a vantagem de ter um número de colaboradores reduzido, "além de uma grande proximidade entre estes e o dono; características que facilitam esses processos de mudança, geralmente realizados por meio de capacitação e incentivos".

"Vale observar que a empresa não necessariamente promove a conscientização, mas, sim, uma adequação de suas rotinas de trabalho", aponta a entidade.

Branco ressalta também que é necessário maior apoio das grandes empresas.

"Elas são indutoras desse processo em muitas pequenas e médias empresas, mas suas regras muito tradicionais na escolha de fornecedores acabam deixando de fora de bons negócios muitas outras que não têm como financiar os ajustem requeridos, por vezes rigorosos demais."  E uma das maneiras de driblar essa barreira é a pequena empresa apostar na inovação como diferencial de competitividade, completa o executivo.

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